2015-03-04

Nutrição

Perigo: suplemento contaminado!

Em meio a tantos casos de doping, surge sempre um grande “álibi”: o uso de um suplemento nutricional contaminado. E não é que pode ser verdade?

Uma famosa pesquisadora, Dra. Louis Burke, do Instituto Olímpico Australiano, costuma dizer que um dos pontos que pesam contra o uso de suplementos nutricionais é a chance de ingerir um produto contaminado.

E tal preocupação faz todo sentido. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, levantamentos científicos apontam que a proporção de suplementos contaminados com esteroides anabolizantes, por exemplo, chega a 26% em alguns países, como Holanda. Nos Estados Unidos, maior mercado mundial de suplementos nutricionais, a proporção de suplementos impuros aproxima-se de 20%.

É difícil saber se esses suplementos são contaminados por conta de falhas na produção industrial, quando substâncias dopantes, como esteroides, são inadvertidamente manipuladas junto a suplementos nutricionais, ou adulteração proposital, com a adição de substâncias capazes de potencializar o efeito de suplementos, tais como hormônios, pró-hormônios e estimulantes não legalizados (quem não se lembra do famoso caso do Maradona, pego por efedrina, na Copa de 1994?). A fonte dos contaminantes também não é esclarecida, mas se especula que as companhias farmacêuticas chinesas sejam responsáveis por fornecer grande parte dos esteroides que contaminam os suplementos nutricionais.

Com o intuito de evitar casos de doping por consumo de suplementos contaminados, alguns países, como Holanda e Alemanha, têm disponibilizado aos atletas e prescritores listas de suplementos de “baixo risco”, ou seja, que passaram por testes rigorosos de pureza realizados pelos próprios fabricantes (por exemplo, nesse caso aqui).

Já no Brasil, infelizmente, o cenário é o mais nebuloso possível. Não há, ao meu conhecimento, nenhum levantamento científico que retrate a prevalência de suplementos contaminados comercializados no país. Consequentemente, não há nenhum tipo de lista de suplementos provavelmente puros a qual atletas e equipe possam recorrer antes de escolher o melhor produto a ser consumido. Por essa razão, costumo dizer que prescrever um suplemento nutricional do Brasil é quase que um ato de coragem; se, por ventura, um atleta é pego no exame antidoping por conta do uso de um suplemento contaminado, é possível (embora não provável) que o usuário seja julgado inocente, porém o profissional que prescreveu o suplemento certamente sofrerá um dano irreparável em sua reputação.

Quatro dicas podem ajudar o prescritor de suplementos nutricionais: (1) leia atentamente o rótulo dos suplementos e, obviamente, não prescreva aqueles com substâncias consideradas dopantes; (2) cheque, periodicamente, a lista de substâncias proibidas da Agência Mundial Antidoping (disponível em https://www.wada-ama.org/); (3) recomende o uso de produtos de empresas com histórico comprovado de controle de qualidade na produção de suplementos; (4) cobre que a ANVISA ou algum órgão público competente (talvez ligado ao Ministério do Esporte?) elabore listas atualizadas com suplementos de reconhecido padrão de pureza.

Até a próxima!

Bruno Gualano - Blog Ciência Informa

www.cienciainforma.com.br

Para conhecer mais sobre o tema, leia:

Geyer et al. 2008. Nutritional supplements cross-contaminated and faked with doping substances. JOURNAL OF MASS SPECTROMETRY J. Mass Spectrom. 2008; 43: 892–902.

Geyer et al. 2004. Analysis of non-hormonal nutritional supplements for anabolic-androgenic steroids – results of an international study. International Journal of Sports Medicine 2004; 25: 124

Comentários

Veja também

Nossos Colaboradores

Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo