Nutrição

Proteína para que te quero - Parte 5: Suplementação de proteínas para idosos

Os rótulos dos suplementos a base de proteína trazem uma mensagem (implícita) razoavelmente clara. Ao mostrar atletas ou indivíduos “estranhamente” musculosos, eles sugerem que este tipo de produto é destinado a esta população, somente. Será? Neste post discutiremos o papel da ingestão de proteínas frente ao envelhecimento.

Talvez a alteração fisiológica mais emblemática relacionada ao envelhecimento seja a redução lenta e progressiva da massa muscular, denominada sarcopenia; esta é acompanhada da diminuição da força e, muitas vezes, da capacidade funcional do idoso, aumentando a incidência de doenças crônicas e até mesmo de mortalidade.

Já tivemos a oportunidade de discutir que o treinamento de força constitui uma importante ferramenta terapêutica para contrapor os efeitos do envelhecimento sobre a massa muscular. Contudo, apenas o estímulo do exercício parece ser insuficiente se não acompanhado de adequações nutricionais importantes. Mais especificamente, o aumento da ingestão de proteínas parece ser determinante para otimizar os efeitos do exercício nesta população.

Curiosamente, em contraposição ao que vimos nos posts anteriores (em relação aos indivíduos jovens saudáveis), o idoso precisa de quantidades maiores de proteína para estimular a síntese proteica após o exercício de força. Enquanto 20g de proteína de alta qualidade (whey protein, por exemplo) induzem a maior resposta em jovens, idosos precisam de 40g para obter uma resposta ótima. Isso acontece pois os idosos apresentam uma “resistência anabólica”, o que, em resumo, quer dizer que as respostas de idosos a estímulos anabólicos como o exercício e a nutrição são sub-ótimas, gerando a necessidade de adequação destes estímulos, como o aumento da ingestão proteica, por exemplo.

De fato, a ciência já identificou uma associação entre o consumo de proteína na dieta e a perda de massa muscular em idosos. Em um estudo realizado nos EUA, ao final de três anos de acompanhamento observou-se uma perda de massa muscular 40% menor nos idosos que consumiam mais proteína na dieta (~1,2g/kg/dia) em comparação àqueles que faziam uma menor ingestão deste nutriente (~0,8g/kg/dia). Baseado nestas premissas, hoje é possível encontrarmos recomendações de ingestão proteica da ordem de 1,0 a 1,5g/kg/dia para esta população, em contraste à recomendação usual (baseado no RDA - recommended dietary allowance) de 0,8g/kg/dia.

Estratégias simples, como a adição do consumo de uma porção de proteína de alto valor biológico ao dia (em associação ao exercício de força) parece ser seguro e efetivo para contrapor a sarcopenia. É o que diz um estudo recente realizado na Austrália. Nele, 100 idosos entre 60 e 90 anos de ambos os sexos foram submetidos a um programa de treinamento de força. Enquanto um grupo recebia uma porção adicional de massa ou arroz, o outro consumia uma porção de carne vermelha magra. Ao final de 4 meses, o grupo que fez o consumo adicional de carne obteve maiores ganhos de força e massa muscular sem nenhum evento adverso reportado.

Parece claro, então, que o uso de suplementos proteicos não se aplica exclusivamente aos atletas ou indivíduos “estranhamente” musculosos, como sugerem os rótulos das embalagens de produtos comumente encontradas no mercado. Embora a mudança deste paradigma caiba à ciência, e ela está fazendo a sua parte, a indústria precisa atentar para outros nichos de mercado e adequar os seus produtos a contento.

Encerramos aqui esta série de posts sobre proteínas. Esperamos que vocês tenham gostado e aguardamos as sugestões de vocês para os próximos assuntos.

Até breve!

Prof. Dr. Hamilton Roschel - Blog Ciência Informa

www.cienciainforma.com.br

Sugestão de leitura:

Daly RM et al. Protein-enriched diet, with the use of lean red meat, combined with progressive resistance training enhances lean tissue mass and muscle strength and reduces circulation IL-6 concentrations in elderly women: a cluster randomized controlled trial. Am J Clin Nutr. 2014 Apr; 99(4): 899-910

Bauer J et al. Evidenced-based recommendations for optimal dietary protein intake in older people: a position paper from the PROT-AGE Study Group. J Am Med Dir Assoc. 2013; 14(8): 542-559