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2016-06-13

Nutrição

Senhores pais, por favor, prestem atenção ao que seus filhos estão comendo!

Ao visitar uma escola particular na cidade de Jaguariúna há algumas semanas, me deparei com uma cena que me chocou: o lanche do intervalo das crianças. Um verdadeiro festival de umtraprocessados. Eu entendo, em uma época onde tempo é dinheiro, quem tem tempo de pensar nisso? Mas eu vos suplico: parem, pensem, e deem mais carinho e atenção ao lanche dos seus filhos. É a saúde deles em jogo! Neste post, que combina um “desabafo” com informações científicas, espero convencê-los a investir 5-10 min do seu dia no lanche do seu filho! Vai valer à pena!


Quem nos acompanha, sabe que eu (Fabiana)  e o Prof. Bruno Gualano estamos participando do projeto Vida de Saúde, idealizado pelo Márcio Atalla, na cidade de Jaguariúna. Dentre nossas atividades, está o planejamento de intervenções que estimulem a diminuição do tempo sedentário, o aumento da prática de atividade fisica (coisas diferentes, como já vimos aqui http://www.cienciainforma.com.br/post.php?id=211), e a promoção de uma alimentação saudável em escolas, para crianças de 6 a 18 anos.



De modo a colocar as intervenções em prática, há algumas semanas, visitamos três escolas da cidade. Duas delas, uma municipal e uma estadual, contam com a merenda escolar que, para a felicidade dos habitantes de Jaguariúna, é exemplar. Ficam aqui meus parabéns para a nutricionistas e as merendeiras da cidade. Já na escola particular, a história é outra. Chegamos nessa escola bem na hora do intervalo, quando crianças de mais ou menos 6 a 10 anos estavam fazendo seu lanche. A cena com a qual nos deparamos, foi algo para o qual, eu confesso, não estava preparada. De todas as crianças, 5% deviam ter uma fruta na lancheira (banana ou maçã). Além disso, 95% consumivam exclusivamente os seguintes alimentos ultraprocessados: suco de caixinha, refrigerante,  salgaginhos e biscoitos recheados. E algo me chamou a atenção: muitos deles levavam estes alimentos em potinhos (os tupperwares); ou seja, alguém “gastou” 5 min para abrir o pacote e colocar aqueles alimentos dentro de potinhos.



A essa altura, quem nos acompanha sabe que não incentivamos a prática de dietas restritivas, o que inclui não nomear alimentos como proibidos; sabem também que incentivamos amplamente as diretrizes do nosso noso Guia Alimentar para a População Brasileira (sobre o qual já falei amplamente aqui: http://www.cienciainforma.com.br/post.php?id=121). Isso quer dizer que não há problemas em consumir alimentos ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos, etc., desde que isso seja feito com moderação; desde que a base da alimentação seja composta por alimentos frescos. O problema é quando o consumo destes alimentos ultraprocessados se torna mais regra do que exceção.  E quando crianças muito, muito novas, já estão consumindo estes alimentos em quantidades consideráveis todos os dias (acreditem, eu perguntei para elas sobre a frequência daquele tipo de alimento nos seus lanches), isso se torna altamente preocupável!



Na semana passada, disponibilizei o primeiro vídeo sobre um dos conceitos abordados na Oficina de Nutrição que foi conduzida para todos da cidade: os nutrientes invisíveis (veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=QC3W3BDQi18). Este vídeo é altamente relevante para o post de hoje. Nele, falamos sobre os nutrientes invisíveis que estão em alimentos os quais muitas vezes consideramos como saudáveis, como sucos de caixinhas. Muitos sucos de caixinha contêm mais açúcar do que refrigerantes, por exemplo (aliás, isso já foi demonstrado em diversos vídeos na internet)! Além disso, esses salgadinhos e biscoitos recheados,  contêm muito sal e gordura.



Mas o problema é a ingestão do açúcar e da gordura por si só? Não! O problema é que estes alimentos contêm muito mais sódio, gordura e açúcar do que podemos imaginar, conferindo a eles os chamados hipersabores, os deixando altamente palatáveis. Isso explica porque é praticamente impossível comer um só biscoito, ou uma só batatinha. No final das contas, isso faz com que comamos muito mais do que precisamos e do que comeríamos se este alimento fosse fresco; ou seja, comemos muito mais calorias sem nem perceber. O mesmo vale para as bebidas açucaradas (sucos de caixinha e refrigerantes). Além isso, há um outro probleminha nessas bebidas: nosso cérebro não “percebe” muito bem a ingestão de calorias líquidas. Isso quer dizer que comer 300 Kcal em um alimento sólido, leva à maior sensação de saciedade do que beber 300 Kcal em alimentos líquidos. Logo, ao beber grandes quantidades dessas bebidas, aumentamos, novamente, sem nem perceber, consideravelmente a quantidade calórica da nossa dieta.



Isso, provavelmente, explica porque cada vez mais cedo, crianças e adolescentes apresentam excesso de peso e, o que é pior, anormalidades metabólicas como resistência à insulina (que predispõe ao diabetes do tipo 2) e dislipidemias (aumento do colesterol “ruim” e diminuição do colesterol “bom”), colocando em risco a saúde dos pequenos. Aliás, essas anormalidades já são prevalentes mesmo em crianças com peso corporal normal. 



Mas então o que eu posso fazer para melhorar, pelo menos, esse lanche? Deixo aqui algumas dicas práticas.



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  1. SEMPRE prefira os alimentos frescos ou, pelo menos, menos processados. Um pão caseiro (destes que você pode comprar na padaria) com queijo mussarela e uma fruta é um lanche muito mais saudável, e leva 5 min para ser preparado e colocado na lancheira.

  2. Acostumem seus filhos a tomar água! O consumo maior de água pode diminuir naturalmente o consumo de bebidas açucaradas. Essas, que incluem sucos de caixinha, devem ser consumidas com muita moderação!   

  3. Frutas frescas, frutas secas, vegetais (cenoura, pepino, etc), castanhas, ovo cozido (quantas vezes eu não levei ovo cozido para a escola!), também podem ser ótimas opções.

  4. Há produtos industrializados que não são ultraprocessados e podem ser práticos. Como saber qual é melhor ou pior? LEIAM RÓTULOS! Mas não é pra ler calorias e composição de macronutrientes. É pra ler os INGREDIENTES, aqueles em letras pequeninas. Se o alimento contiver ingredientes os quais você desconhece e/ou não consegue nem pronunciar, ele é um ultraprocessado. Quanto menos ingredientes, menos ultraprocessado, melhor o alimento. Há, por exemplo, inúmeros sucos de caixinha que só contêm o suco da fruta. Há muitos biscoitos e pães sem adição de conservantes e aditivos também.



Por fim, eu vos suplico: prestem atenção ao que seus filhos estão comendo! Caso contrário,teremos uma geração de 30 anos com a prevalência de doenças metabólicas que hoje observamos em pessoas de 50 anos. Eu sei que não é fácil e requer tempo! Mas acredito que desejem o melhor aos seus pequenos, certo? Então, mãos e cérebro à obra! Todos podemos fazer melhor!



Fabiana Benatti



Para saber mais:



Bray GA, Popkin BM. Dietary Sugar and Body Weight: Have We Reached a Crisis in the Epidemic of Obesity and Diabetes? Diabetes Care 2014 Apr; 37(4): 950-956.



Bray GA, Popkin BM. Calorie-sweetened beverages and fructose: what have we learned 10 years later. Pediatr Obes. 2013 Aug;8(4):242-8.  



Della Valle DM, Roe LS, Rolls BL. Does the consumption of caloric and non-caloric beverages with a meal affect energy intake? Appetite 2005; 44: 187-193.



Rolls BL. Understanding the mechanisms of food intake and obesity. Obesity reviews 2007; 8 (Suppl 1): 67-72.



Guia Alimentar para a População Brasileira. http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira.pdf



Muckelbauer R, Gortmaker SL, Libuda L, Kersting M, Clausen K, Adelberger B, Müller-Nordhorn J. Changes in water and sugar-containing beverage consumption and body weight outcomes in children. The British Journal of Nutrition 2016;115(11):2057-66.







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Nossos Colaboradores

Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo