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2015-03-25

Exercícios

Quem faz musculação fica baixinho?

O treinamento de força para crianças é envolto de mitos e preconceitos. É muito comum que profissionais da saúde proíbam atividades de força para crianças e adolescentes, para evitar prejuízos no crescimento. Afinal, quem faz musculação fica baixinho?


Pais e profissionais de saúde, geralmente, não enxergam com bons olhos a prática de exercícios de força por crianças e adolescentes. De fato, muitas academias até restringem a matrícula na musculação a uma idade mínima, que varia de 14 a 18 anos. A preocupação principal é que exercícios de força possam afetar o crescimento. O que diz a ciência sobre isso?


Estudos transversais (aqueles que fornecem um “retrato” de determinado tema) indicam que crianças e adolescentes engajadas em atividades de força ou potência, como ginástica ou musculação, tendem a serem mais baixas do que aquelas que praticam outras modalidades, tais como basquete. Isso significa que o treinamento de força prejudica ou o basquete melhora o crescimento? Nem um, nem outro. Estudos longitudinais, que acompanham crianças e adolescentes ao longo dos anos, sugerem que nem a prática de modalidades de força ou potência, nem a prática de basquete alteram o crescimento. Como explicar, então, o fato de que ginastas são notadamente mais baixos do que jogadores de basquetebol. Simples, trata-se de um processo de “seleção natural”. Ninguém em sã consciência imaginaria que a Daiane dos Santos pudesse lograr êxito como pivô da seleção brasileira de basquete juvenil, tampouco que o Oscar Shmidt, em sua adolescência, pudesse alcançar resultados expressivos numa prova de argolas, por exemplo. Assim, o sucesso e o fracasso esportivo acabam por guiar crianças e adolescentes com determinadas características físicas (ex.: alto, baixo) a uma modalidade ou outra. Não há nenhuma evidência, portanto, que a prática de musculação prejudique o crescimento.  


Isso não significa dizer que alguns cuidados especiais não precisem ser tomados. Em primeiro lugar, é importante reconhecer que crianças e adolescentes estão em fase de crescimento, de modo que a carga de treinamento e a execução dos exercícios precisam ser devidamente ajustadas, de modo a não lesionar o disco epifisário, responsável pelo crescimento longitudinal dos ossos. A literatura científica demonstra que lesões de discos epifisários ocasionados por mau planejamento de treinamento afetam o crescimento da peça óssea. Isso não significa, necessariamente, que a criança ficará baixinha, porém poderá haver assimetria de membros, o que é um tanto pior. Em segundo lugar, crianças e, em especial, adolescentes tendem a buscar resultados rápidos quando iniciam um programa de musculação. Ocorre que antes da puberdade, período maturacional em que não há um ambiente hormonal favorável à hipertrofia, o treinamento de força promove ganhos de força, principalmente, através de adaptações chamadas de neurais (coordenação, por exemplo), e menos por ganhos de massa muscular. Na pressa de conseguir os músculos desejados, é cada vez mais comum que adolescentes recorram a substâncias ilícitas, como esteroides anabolizantes, para alcançar seus objetivos. Além de todos os malefícios provocados por essas drogas à saúde geral do indivíduo, há evidências de que algumas delas também provoquem, precocemente, o “fechamento” dos discos epifisários, afetando, dessa maneira, o crescimento.


Podemos dizer, portanto, que atividades de força e potência não prejudicam o crescimento quando realizadas sob orientação de um profissional qualificado, certificado para lidar com crianças e adolescentes. No entanto, lembrem-se sempre que o processo de crescimento é um período vulnerável, no qual estímulos indevidos, como, por exemplo, treinamento excessivo e uso de esteroides anabolizantes, podem trazer consequências negativas irreversíveis ao organismo, como redução de crescimento.



Até a próxima!  


Bruno Gualano - Blog Ciência Informa


www.cienciainforma.com.br


Para conhecer mais sobre o tema, leia: 


Pediatric resistance training: benefits, concerns, and program design considerations. Faigenbaum AD, Myer GD. Curr Sports Med Rep. 2010 May-Jun;9(3):161-8. doi: 10.1249/JSR.0b013e3181de1214.


Growth and maturation of adolescent female gymnasts, swimmers, and tennis players.


Erlandson MC, Sherar LB, Mirwald RL, Maffulli N, Baxter-Jones AD. Med Sci Sports Exerc. 2008 Jan;40(1):34-42


Androgen Therapy in an "excessively" tall boy. Ruvalcaba RH, Tattoni DS, Kelley VC. Am J Dis Child. 1975 Jan;129(1):95-7.








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Nossos Colaboradores

Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

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Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo