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2015-05-25

Exercícios

Resposta hormonal ao exercício de força e aumento de massa muscular: Qual a relação entre eles?

Alvo da maioria dos indivíduos engajados em treinamento de força, o aumento da massa muscular em resposta à musculação é frequentemente associado com a capacidade do exercício em aumentar as concentrações de hormônios anabólicos circulantes. Mas será que há mesmo relação entre as duas coisas? O post de hoje trata do assunto. Clique para saber mais.


Entre os mais imersos no mundo da musculação é recorrente a ideia de para que ela seja efetiva em aumentar a massa muscular, a sessão de treino deva ser capaz de induzir aumentos nas concentrações circulantes de hormônios anabólicos como a testosterona, hormônio do crescimento (GH) e fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1).


Assumir o conceito acima como verdadeiro nos leva a concluir que o treinamento de força deva ser manipulado para induzir maiores respostas hormonais, otimizando, assim, a hipertrofia muscular. De fato, o exercício agudo de força - ou seja, uma única sessão de exercícios de força – é capaz de aumentar as concentrações circulantes de hormônios anabólicos. E mais, a manipulação das variáveis do treinamento como o volume (quantidade de séries e/ou repetições), a intensidade (quantidade de carga) e o intervalo de recuperação pode implicar em maiores ou menores respostas hormonais. 


Contudo, apesar de haver plausibilidade fisiológica para conjecturarmos que um treino capaz de promover maior resposta hormonal é também aquele mais efetivo em aumentar a massa muscular, há uma marcante falta de evidências científicas que suportem esta hipótese. De forma contrastante, há trabalhos que demonstram aumentos de massa muscular sem qualquer alteração evidente nas concentrações de hormônios anabólicos.


De forma ainda mais interessante, dois estudos de um mesmo grupo de pesquisadores refutam, de maneira muito perspicaz, esse conceito. Utilizando um desenho experimental parecido, a ideia era verificar se os músculos do membro superior responderiam de maneira similar à diferentes concentrações hormonais circulantes tanto de forma aguda (estudo 1) como crônica (estudo 2). De forma simples, um grupo realizava apenas exercícios para membros superiores enquanto o outro o fazia após a realização de exercícios para os membros inferiores. Especula-se que quanto maior a quantidade de musculatura envolvida, maior a concentração hormonal circulante pós exercício. Desta forma, o primeiro grupo (apenas membros superiores) experimentou uma condição de pequeno aumento na concentração dos hormônios anabólicos circulantes; já o segundo grupo (membros inferiores antes dos superiores) apresentou aumentos significantemente maiores nas concentrações hormonais. Os resultados do estudo 1 mostraram que ambos os grupos aumentaram a taxa de síntese proteica pós-exercício de maneira similar, contestando o papel da concentração hormonal sobre esta variável. Já o estudo 2 demonstrou que os aumentos de massa muscular nos membros superiores foram comparáveis entre os dois grupos de maneira crônica. Ou seja, embora um dos grupos tenha sempre experimentado concentrações aumentadas de testosterona, GH e IGF-1, isso não exerceu nenhum efeito aditivo sobre o ganho de massa muscular em longo prazo.


É importante destacar que estes aumentos hormonais pós-exercícios ocorrem dentro dos limites fisiológicos de concentração, além de serem extremamente transientes, perdurando por apenas alguns minutos e, por isso, não são considerados reguladores importantes do processo anabólico. Uma informação que sustenta esta afirmação é a de que a taxa de síntese proteica aumenta de maneira similar entre homens e mulheres em resposta ao exercício de força, apesar destas últimas apresentarem concentrações muito menores de testosterona, enfatizando ainda mais a falta de ligação entre os eventos. 


É importante ficar claro que não se contesta o papel de um ambiente hormonal que torne “permissivo” o processo anabólico. Contudo, esse ambiente é obtido com concentrações fisiológicas (dentro do limite de normalidade) destes hormônios, limitando a relevância “fundamental” dos hormônios anabólicos a condições extremas; isto é, não se pode esperar uma resposta anabólica otimizada em indivíduos com hipogonadismo, por exemplo. Não é questionável, também, a eficácia dos hormônios administrados de forma exógena em concentrações supra-fisiológicas (quando do uso de esteroides anabólicos, por exemplo) no processo de hipertrofia, da mesma forma que não se contesta os seus efeitos adversos ; ) (para mais informações, veja este post). Entretanto, nenhum destes modelos representa condições “normais” e devem ser tratadas separadamente.


Em conclusão, embora comumente observadas na prática, estratégias que têm como intuito induzir maiores aumentos agudos nas concentrações de hormônios anabólicos não se sustentam. Ao contrário, garantir um bom estímulo de treino e um adequado aporte nutricional (assuntos recorrentes no Ciência informa) parecem ser caminhos mais eficientes para otimizar os efeitos do exercício.



Até breve!


Prof. Dr. Hamilton Roschel - Blog Ciência inForma


www.cienciainforma.com.br



Sugestões de leitura:



West DW, Kujbida GW, Moore DR, et al. Resistance exercise-induced increases in putative anabolic hormones do not enhance muscle protein synthesis or intracellular signalling in young men. J Physiol. 2009; 587(Pt 21):5239–47.



Smilios I, Pilianidis T, Karamouzis M, Tokmakidis SP. Hormonal responses after various resistance exercise protocols. Med Sci Sports Exerc. 2003;35(4):644–54.



West DW, Burd NA, Tang JE, et al. Elevations in ostensibly anabolic hormones with resistance exercise enhance neither training-induced muscle hypertrophy nor strength of the elbow flexors. J Appl Physiol. 2010;108(1):60–7.



West DW, Phillips SM. Associations of exercise-induced hormone profiles and gains in strength and hypertrophy in a large cohort after weight training. Eur J Appl Physiol. 2012;112(7):2693–702.



Wilkinson SB, Tarnopolsky MA, Grant EJ, Correia CE, Phillips SM. Hypertrophy with unilateral resistance exercise occurs without increases in endogenous anabolic hormone concentration. Eur J Appl Physiol. 2006;98(6):546–55








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Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo