Por muitos anos o exercício físico foi estritamente proibido a pacientes com doenças reumáticas, sobretudo as inflamatórias (e.g., artrite reumatoide, lúpus, miopatias inflamatórias, espondilites, etc.). Isso, pois acreditava-se que o exercício pudesse exacerbar o processo inflamatório e, assim, piorar a doença. Contudo, hoje sabemos que o exercício não apenas é seguro, mas também extremamente benéfico, levando à melhora de diversos sintomas clínicos, da qualidade de vida e do risco cardiovascular destes pacientes. Para saber mais, não perca o post de hoje!
Artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, miopatias inflamatórias e espondilite anquilosante são apenas algumas das muitas doenças reumáticas inflamatórias que existem. Essas doenças, infelizmente, não têm cura e cada uma delas é caracterizada por um quadro clínico específico. Contudo, todas elas apresentam uma série de sintomas clínicos em comum que parecem decorrer do quadro inflamatório sistêmico e do uso crônico de medicamentos: fadiga exacerbada, baixa capacidade física, perda de massa muscular e desordens metabólicas, como resistência à insulina (isto é, problemas no metabolismo do açúcar que predispõe ao diabetes e a doenças cardiovasculares) e dislipidemias (isto é, alteração no metabolismo do colesterol que também predispõe a doenças cardiovasculares). Não é por acaso que as doenças do coração representam a maior causa de mortalidade em pacientes com essas doenças.
Para piorar este quadro, a inatividade física parece ser mais prevalente nesses pacientes. É possível que o medo de muitos médicos em prescrever atividade física associado à maior sensação de fadiga e a menor capacidade física leve estes pacientes ao sedentarismo. O sedentarismo, por sua vez, leva à piora de todos aqueles sintomas clínicos e do risco cardiovascular, em um círculo vicioso.
Diante disso, qual parece ser a solução? Sim, essa mesma na qual você está pensando: fazer exercício físico!
Então você me pergunta: mas ele não pode levar ao aumento da inflamação? E eu te respondo com um ressonante não!
São muitos, muitos os estudos que demonstram a segurança (ou seja, nenhuma alteração da atividade da doença) do exercício físico moderado, aeróbio e de força, para pacientes com doenças reumáticas inflamatórias. Há ainda muitos estudos que demonstram a segurança com o exercício físico vigoroso, particularmente na artrite reumatoide. Isso quer dizer que o exercício não exacerba a inflamação nesses pacientes. Muito pelo contrário, ele pode até atenuar o quadro inflamatório. Em um estudo com pacientes com lúpus eritematoso sistêmico em remissão (ou seja, com a doença inativa), nosso grupo mostrou que 12 semanas de treinamento aeróbio moderado em esteira levaram à diminuição de marcadores sanguineos inflamatórios. Outros estudos mostram, ainda, melhora na inflamação das articulações em pacientes com artrite reumatoide.
Além deste potencial efeito anti-inflamatório, o exercício físico impacta de forma expressiva todos aqueles sintomas clínicos, ao levar à preservação da massa muscular, aumento da capacidade física, diminuição da fadiga, e melhora do metabolismo do açúcar e das gorduras no sangue. Essas melhoras, além de levarem ao aumento da qualidade de vida, levam à redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Lembra que eu disse no início que essas doenças são as que mais matam esses pacientes? Pois então, diante disso, fica muito claro que o exercício é um grandissíssimo aliado no tratamento dessas doenças. Logo, se você tem ou conhece alguém que tem uma dessas doenças, a recomendação é clara: procure um profissional qualificado e faça atividade física!
Até a próxima!
Fabiana Benatti - Blog Ciência InForma
www.cienciainforma.com.br
Para saber mais:
Benatti FB, Pedersen BK. Exercise-induced myokines and their anti-inflammatory effects: focus on rheumatic diseases. Nat Rev Rheumatol. 2015; 11(2):86-97.
Perandini LA, de Sá-Pinto AL, Roschel H, Benatti FB, Lima FR, Bonfá E, Gualano B. Exercise as a therapeutic tool to counteract inflammation and clinical symptoms in autoimmune rheumatic diseases. Autoimmun Rev. 2012 Dec;12(2):218-24.
Perandini LA, Sales-de-Oliveira D, Mello SB, Camara NO, Benatti FB, Lima FR, Borba E, Bonfa E, Sá-Pinto AL, Roschel H, Gualano B. Exercise training can attenuate the inflammatory milieu in women with systemic lupus erythematosus. J Appl Physiol (1985), v. 117, p. 639-647, 2014.