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2014-09-22

Exercícios

Lactato: amigo ou vilão do desempenho?

Lactato: amigo ou vilão do desempenho? Muito se fala que ele é o responsável pela fadiga e pelas dores musculares, queimação nos músculos e câimbras. Será?



Dores musculares, queimação nos
músculos, câimbras. Essas são manifestações comuns entre aqueles que treinam
muito, praticam exercícios intensos ou, às vezes, exageram no dose de
exercício. Ao se perguntarem porque sentem essas sensações desconfortáveis, as
pessoas geralmente pensam em um vilão: o lactato.



O lactato muscular, substância naturalmente produzida em grandes quantidades pelo
músculo durante o exercício de alta intensidade como produto do metabolismo
energético, foi por muito tempo apontado como um dos grandes causadores da
fadiga. No entanto, esse paradigma começou a mudar a partir dos anos 2000 e,
atualmente, existem boas evidências de que o lactato não apenas não causa fadiga como também é
importantíssimo para manter o exercício de alta intensidade. Um bom exemplo da
importância da produção de lactato para o exercício são os raros casos de
pessoas com deficiência inata de uma enzima chamada lactato desidrogenase, ou
simplesmente LDH. Essa enzima é responsável pela produção de lactato nos
músculos e, caso a pessoa não possua tal enzima, ela também não produzirá
lactato. Se o lactato, pois, fosse realmente causa de fadiga e prejudicial para
o desempenho, pessoas com deficiência de LDH teriam uma grande vantagem ao
realizar exercícios. No entanto, o que se observa é justamente o contrário. Um
dos principais sintomas dessa grave doença genética é a intolerância ao esforço
físico.



Mais
recentemente, alguns pesquisadores começaram a testar se a suplementação de
lactato seria uma boa maneira de aumentar a capacidade tamponante (isto é, a
capacidade de neutralizar os ácidos produzidos durante o exercício). Por mais
paradoxal que pareça, o lactato, antigamente responsabilizado pela acidose
muscular durante o exercício, agora vem sendo estudado justamente como agente
capaz de atenuá-la. O mais interessante é que ingerir lactato realmente aumenta
a reserva tampão do sangue. Não que o lactato em si seja um tampão, mas durante
sua metabolização ocorre uma redução da quantidade de ácidos no organismo. Por
consequência, ocorre também um aumento da quantidade de bicarbonato no sangue,
o principal tampão sanguíneo. Em tempo, aumentar bicarbonato no sangue é um dos
meios mais eficientes de neutralizar mais ácidos durante o exercício e retardar
a fadiga muscular.



Todavia,
esse aumento no bicarbonato sanguíneo proporcionado pela suplementação de
lactato parece não ser grande o suficiente para retardar a fadiga e promover
melhoras no desempenho. Pelo menos é o que mostrou um estudo de nosso
laboratório
. Outros estudos dividem-se ao mostrar nenhum efeito, efeito
muito discreto, ou impressionantes 17% de aumento no tempo até atingir a
fadiga. Enquanto a literatura não esclarece se ingerir lactato é, de fato,
capaz de retardar a fadiga e melhorar o desempenho, vale a lição maior que eles
nos deixam: o lactato, definitivamente, não é inimigo do atleta.


Guilherme G Artioli


Para saber mais:



Gladden, LB. Lactate metabolism:
a new paradigm for the third millennium. J Physiol. Jul 1, 2004; 558(Pt 1):
5–30.



Robergs RA, Ghiasvand F, Parker
D. Biochemistry of exercise-induced metabolic acidosis. Am J Physiol Regul
Integr Comp Physiol. 2004 Sep;287(3):R502-16.



Painelli Vde S, da Silva RP, de
Oliveira OM Jr, de Oliveira LF, Benatti FB, Rabelo T, Guilherme JP, Lancha AH
Jr, Artioli GG. The effects of two different doses of calcium lactate on blood
pH, bicarbonate, and repeated high-intensity exercise performance. Int J Sport
Nutr Exerc Metab. 2014 Jun;24(3):286-95. doi: 10.1123/ijsnem.2013-0191. Epub
2013 Nov 25.



Camila Lemos Pinto, Vitor de
Salles Painelli, Antonio Herbert Lancha Junior, Guilherme Giannini Artioli.
Lactato: de causa da fadiga a suplemento ergogênico? Revista Brasileira de
Ciência e Movimento, Vol. 22, No 2 (2014).







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Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo