Vida e Saúde

Como a atividade física previne o câncer?

Existem diversos estudos que associam a prática de atividade física à prevenção do câncer. Mas qual seria o mecanismo de ação? Valiosas pistas surgiram com um estudo recente. Acompanhe no post hoje!

Vocês já devem ter ouvido falar que a atividade física é capaz de reduzir a incidência de alguns tipos de cânceres (ex.: cólon e mama), a reincidência de tumores e a mortalidade em pacientes com esta doença.  No entanto, muitas das evidências que temos veem de estudos de associação. Por isso, é possível argumentar que pessoas que mais praticam atividade física podem ser aquelas que também cultivam outros hábitos saudáveis, como, por exemplo, não fumar e se alimentar de modo saudável.

No entanto, a ciência tem evoluído rapidamente e demonstrado que, de fato, a atividade física é capaz de combater o câncer diretamente. Atualmente, sabemos que o exercício é capaz de reduzir a expressão de genes associados à proliferação do câncer (chamados de “oncogenes”) e atenuar as concentrações de hormogônios sexuais, a inflamação crônica, a adiposidade e a resistência à insulina – fatores que estão associados com alguns tipos de câncer.  

O exercício também produz efeitos mais diretos. Durante a contração muscular, a fibra é capaz de secretar na corrente sanguínea proteínas específicas, chamadas de miocinas, que atuam em diversos órgãos e produzem efeitos benéficos, como melhora na sensibilidade à insulina e inflamação. Sabemos também que algumas miocinas podem ter efeitos antiproliferativos, ou seja, induzem a morte (ou “apoptose”) de células tumorais.

Um recente estudo dinamarquês nos deu novas pistas sobre a ação de um miocina, chamada de interleucina-6 (IL-6), no combate ao câncer. Os pesquisadores verificaram que camundongos que realizaram atividade física voluntária, usando uma daquelas rodinhas de gaiola, como mostra a figura abaixo, apresentaram uma menor incidência de vários tipos de tumores. Interessantemente, a atividade física deflagrou uma resposta imune contra os tumores, caracterizada pela “invasão” de linfócitos, incluindo células chamadas de natural killer, que fazem parte da defesa imune inata do organismo e são capazes de “vigiar” novas células tumorais e destruí-las.  

O pioneiro estudo dinamarquês demonstrou que a atividade física não afeta a citotoxidade das células natural killer, porém prepara o ambiente tumoral para a infiltração dessas células, aumentando a expressão de receptores que se ligam à superfície do tumor. Em outras palavras, é como se o exercício não aumentasse o potencial bélico dos soldados natural killer, mas facilitasse a chegada do batalhão em direção ao seu inimigo. Uma tática de guerra para nem Napoleão botar defeito, hein? Evidentemente, novos estudos com humanos precisam comprovar esses promissores achados, que renovam nossas expectativas com o efeito terapêutico do exercício no câncer.  

Até a próxima!  

Bruno Gualano - Blog Ciência InForma

www.cienciainforma.com.br

As informações deste post foram embasadas no artigo de perspectiva de Alejandro Lucia e Manuel Ramíres, publicado na renomado The New England Jornal of Medicine (Muscling in on câncer. 2016; 375;9, 892-4), e na publicação de Pedersen e colaboradores (Voluntary running suppresses tumor growth through epinephrine- and IL-6-dependent NK cell mobilization and redistribution. Cell Metab 2016; 23: 554-62).

Para saber mais sobre o tema, leia:

Hojman P, Dethlefsen C, Brandt C, Hansen J, Pedersen L, Pedersen BK. Exercise-induced muscle-derived cytokines inhibit mammary cancer cell growth. Am J Physiol Endocrinol Metab 2011; 301(3): E504-10.