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2014-12-08

Vida e Saúde

Obesidade metabolicamente saudável – isso existe? – Parte 2

Após o primeiro post sobre o tema, muitos foram os comentários dos leitores! Dentre as perguntas mais realizadas, a principal foi: exitem estudos longidudinais, ou seja, de longo prazo, que mostram que sujeitos metabolicamente saudáveis estão, de fato, sob menor risco cardiovascular?


Primeiramente, é importante entender o que são os tais “estudos longitudinais”. Nesses estudos, alguns parâmetros de interesse (por exemplo, IMC e outros fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial, colesterol, glicose e etc.) são avaliados em um grupo de pessoas diversas vezes ao longo do tempo. Portanto, essas pessoas são acompanhadas por um determinado número de meses ou anos. Ao final deste período, são contabilizadas as incidências de doenças (isto é, morbidade) e de mortes (isto é, mortalidade). A partir desses números, os autores podem calcular o risco de morbidade e mortalidade de acordo com as características iniciais dos indivíduos. 


Estudos longitudinais com o objetivo de avaliar o risco de morbi-mortalidade de obesos metabolicamente saudáveis são ainda controversos. Alguns estudos trazem dados que indicam que o “status metabólico”, ou seja, ser metabolicamente saudável ou não, é mais importante do que a obesidade em si para o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e de mortalidade em longo prazo. Nesses estudos, obesos metabolicamente saudáveis parecem não estar sob maior risco do que não obesos metabolicamente saudáveis. Por outro lado, há estudos que mostram que, embora obesos metabolicamente saudáveis estejam sob substancial menor risco cardiovascular do que obesos não saudáveis, eles ainda estão sob maior risco de morbi-mortalidade quando comparados a sujeitos não obesos metabolicamente saudáveis. De fato, enorme é a discussão na literatura. Isso pode ser atestado até mesmo pela quantidade de comentários publicados imediatamente após os estudos sobre o tema serem disponibilizados pelas revistas cientítificas. 


Ao analisar estes estudos percebe-se que a grande maioria não corrige seus resultados pelos níveis de atividade física. Já aqueles que o fazem, com exceção do estudo de Ortega e colaboradores citado no post passado, não utilizam os métodos mais adequados para determinar o nível de atividade física das pessoas avaliadas. 


Considere, por exemplo, a estimativa de que a inatividade física por si só, independente de IMC, aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em 45% e de mortalidade em mais de 30%. Agora considere a meta-análise de Kramer e col., por exemplo, em que os autores reuniram resultados de diversos estudos anteriores com o objetivo de avaliar o risco cardiovascular e a mortalidade por todas as causas de sujeitos metabolicamente saudáveis e não saudáveis obesos (IMC>30), com sobrepeso (25<IMC>30) e eutróficos (IMC<25). O estudo mostrou que obesos metabolicamente saudáveis têm risco de mortalidade por todas as causas 25% maior quando comparados aos eutróficos, considerando apenas estudos com seguimento igual ou maior a 10 anos. Agora, atentem para os seguintes resultados: os grupos eutrófico, sobrepeso e obeso metabolicamente não saudáveis apresentaram risco de mortalidade maior em 300%, 270% e 265%, respectivamente, quando comparados ao grupo eutrófico. Além disso, sujeitos com sobrepeso metabolicamente saudáveis não apresentaram risco aumentado. Por fim, os autores não conseguiram demonstrar maior risco cardiovascular do grupo obeso metabolicamente saudável quando comparado ao grupo eutrófico.


Logo, ainda me parece que devemos focar nossa luta no combate aos fatores de risco cardiovascular, os quais são substancialmente reduzidos com a prática de atividade física! Como já discutido em textos anteriores aqui neste blog, apenas reduzir o peso pode não ser uma meta muito viável para muitas pessoas e, pior, o excesso de foco no peso pode gerar outros problemas graves, como o próprio aumento de peso após uma dieta malsucedida (efeito sanfona) e o aparecimento de transtornos alimentares. Quero deixar claro que não se trata de defender ou fazer apologia à obesidade. Não podemos esquecer que evidências indicam que a perda de peso pode ser extremamente benéfica, particularmente para obesos metabolicamente não saudáveis, e que um obeso que reduz 10% do peso corporal já tem melhoras significativas em fatores de risco cardiovasculares. O problema é que os tratamentos disponíveis para reduzir o peso em indivíduos obesos têm sistematicamente se mostrado falhos; caso contrário os índices de obesidade não continuariam aumentando. A ideia central destes posts é instigá-los a questionar a generalização das recomendações para todo o qualquer obeso e mostrar que o “simples” aumento da capacidade física de um obeso já é extremamente benéfico para sua saúde. Como isso é possível? Trataremos disso no próximo post!


Fabiana Benatti - Blog Ciência Informa

www.cienciainforma.com.br




Para saber mais:


Booth F, Roberts C, Laye MJ. Lack of exercise is a major cause of chronic diseases. Compr Phyisiol 2012, 2:1143-1211.


Durward CM, Hartman TJ, Nickols-Richardson SM. All-cause mortality risk of metabolically healthy obese individuals in NHANES III. J Obes 2012, 2012:460321.


Hamer M, Stamatakis. Metabolically healthy obesity and risk of all-cause and cardiovascular disease mortality. J Clin Endocrinol Metab 2012 Jul;97(7):2482-8.


Hinnouho GM, Czernichow S, Dugravot A, Batty GD, Kivimaki M, Singh-Manoux A. Metabolically healthy obesity and risk of mortality: does the definition of metabolic health matter? Diabetes Care. 2013 Aug;36(8):2294-300.


Kramer  C, Zinman B, Retnakaran R. Are metabolically healthy overweight and obesity benign conditions? Ann Inter Med 2013, 159: 758-769.


Rhee EJ, Lee MK, Kim JD, Jeon WS, Bae JC, Park SE, Park CY, Oh KW, Park SW, Lee WY. Metabolic health is a more important determinant for diabetes development than simple obesity: a 4-year retrospective longitudinal study. PLoS One 2014, 28;9(5):e98369. 








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