Nutrição

Tribulus Terrestris e as falsas propagandas de aumento de testosterona, força e massa muscular

Que homem não gostaria de ter um corpo musculoso? Se isso viesse sem grandes esforços não seria ainda melhor? E se essa “ajudinha externa”, de quebra, também aumentasse a libido e melhorasse o desempenho sexual? E se um produto natural, fitoterápico, inofensivo e “não-químico” (como se isso existisse...) tivesse todas essas propriedades? Seria tão bom que é difícil acreditar que algo assim realmente exista. E não existe mesmo, mas tem muita gente que acredita...

Tribulus Terrestris é uma planta com supostos efeitos medicinais. Sua fama de afrodisíaca tem levado pessoas a acreditar que seu consumo pode aumentar a produção natural de testosterona. Uma vez que a testosterona é o principal hormônio esteroide anabólico, esse suposto aumento poderia levar a ganhos de massa muscular, força e desempenho físico. Claro, poderia também melhorar o desempenho sexual... mas deixemos isso de lado aqui neste post.

Um fato interessante sobre os supostos efeitos do tribulus terrestris é a quase total ausência de relatos sobre seus mecanismos de ação. Se ela aumentasse testosterona, deveria atuar sobre as células de Leydig (que se localizam nos testículos e produzem testosterona), sobretudo sobre os hormônios que as regulam, como o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), ou as próprias gonadotrofinas: LH (hormônio luteinizante) ou FSH (hormônio folículo-estimulante). No entanto, não há explicações sobre como isso aconteceria. Na verdade, já existem dados mostrando nenhum aumento de gonadotrofinas após o consumo de tribulus terrestris.

De forma geral, existem poucos estudos na literatura científica que tenham testado os efeitos dos extratos de tribulus terrestris. Pior, muitos deles são de baixa qualidade metodológica. No entanto, os poucos estudos bem controlados não deixam dúvidas: homens saudáveis não têm qualquer aumento de testosterona ao consumir tribulus terrestris. No caso dos atletas, não há, portanto, risco de ter um exame antidoping positivo, a não ser que o extrato de tribulus esteja contaminado com hormônios esteroides (o que, convenhamos, é bem possível). 

Em mulheres, um estudo com duas participantes também mostrou que o uso de tribulus não aumenta testosterona. No entanto, faço aqui uma ressalva sobre a baixíssima quantidade de informações sobre o uso de tribulus em mulheres. Se por um lado não sabemos o suficiente para afirmar com certeza que tribulus não tem efeitos, também não existem evidências, por outro lado, que sustentem a prescrição desse tipo de suplemento (lembrem-se: o bom profissional de saúde deve, sempre que possível, basear sua conduta em evidências científicas).

Em relação ao ganho de massa muscular e força, os poucos estudos bem controlados também indicam que o tribulus terrestris não funciona e em nada pode ajudar o indivíduo saudável que treina.

Alguns usuários de esteroides anabólicos utilizam o tribulus terrestris durante os intervalos de uso dos hormônios. Uma vez que o uso de esteroides exógenos reduz drasticamente a produção endógena de testosterona, parar de administrar tais hormônios pode reduzir a quase zero os níveis de testosterona. Como isso é algo que esses usuários querem evitar, eles buscam formas de aumentar a produção natural de testosterona e, para tanto, utilizam tribulus terrestris. Embora alguns pouquíssimos estudos com homens com deficiência hormonal (redução de testosterona que acompanha o envelhecimento) tenham mostrado pequenos aumentos na produção endógena de testosterona com o uso de tribulus, isso não significa que os mesmos efeitos serão observados em jovens usuários de hormônios sintéticos que sofrem de hipogonadismo. Nesses casos, a melhor forma de evitar o hipogonadismo é não usar esteroides anabólicos exógenos...

Um último destaque importante é a falta de dados sobre sua segurança. Se sabemos que não funciona e não sabemos se é seguro, não consigo pensar em sequer uma razão que justifique prescrever ou utilizar tribulus terrestris.

Um abraço e até a próxima!

Guilherme Artioli - Blog Ciência inForma

www.cienciainforma.com.br

Referências:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17530942

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10997957

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25114736

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18282674

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24559105

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25849625